Piquenique no Monte Escuro

Convívio no Monte Escuro (década de 60?)

De baixo para cima, da esquerda para a direita: Delfina Casinha, Inês Casinha, José Calouro, Maria do Carmo Casinha, Amélia (esposa do mestre Manuel Casinha do Coucinho), Neta da Amélia, Maria da Luz Casinha, Maria Briló, Amélia (filha do mestre Manuel Casinha), Jenoára Casinha, Marido da Jenoára, Mestre Manuel Casinha (copo na mão), José Pereira, Antonio do Monte, Antonio da cidade.
A familia à direita com crianças são familia do Sr. José Pereira.
À direita sentados: Sr. José de Lima e o seu irmão.
De pé, da esquerda para a direita: Manuel Casinha, Jaime do Pão (com o garafão na mão) , Norbeto Perciano (com a caneca de vinho), Mestre Manuel Antão da Canada das Gentes (com o chapeú, atrás do José de Lima).

O trabalho árduo de outros tempos dava, muitas vezes, lugar à confraternização entre trabalhadores, ou mesmo, entre pais e filhos. Nestes momentos, por entre a conversa animada, perpectuava-se uma troca de saberes entre gerações que fica até aos nossos dias.

Destes tempos escreve António de Lima Raposo o seguinte:

O Último Fragueiro

“Os sinos dobravam a finados, compassando o andar dos homens que, vestidos de negro, em duas filas, acompanhavam o morto ao cemitério da Boa Viagem.
Já a cruz que precedia o cortejo se perdia de vista na dobragem da volta do adro, e o caixão, conduzido a braços por quatro homens de opa roxa, que se revezava com outro turno, ainda não saia da Canada das Gentes. Cabisbaixos, os homens acompanhavam dolentemente o Terço que o Vigário “levantara”, logo ao sair da casa do falecido.
Junto ás fontes, nas encruzilhadas das canadas com a rua Direita, as mulheres, aos grupos, conversavam limpando as lágrimas que lhes corriam, não como sinal de fingido dolo, como fariam as antigas carpideiras, mas como um sinal de um pesar verdadeiramente sentido.
De um automóvel estacionado junto ao Chafariz e em que viera uma família de Ponta Delgada á busca de uma criada, saiu um cavalheiro de respeitável apresentação, cuja idade já andaria á volta dos oitenta anos e cuja estranheza por vir encontrar numa aldeia, um tão concorrido como respeitoso cortejo fúnebre o levou a indagar quem era falecido.
Dirigindo-se pois a uma das mulheres, que meio embuçada no seu xaile, enxugava ao lenço as lágrimas, perguntou:
- Diga-me mulherzinha, por favor, quem é o morto que tem a honra de um tal acompanhamento?
- O ÚLTIMO FRAGUEIRO. Respondeu a mulher, fixando por um momento os seus olhos embaciados no seu interlocutor e a seguir nas pessoas que o acompanhavam, ainda dentro do automóvel.
Esta resposta, na aparência tão simples, mas tão inteligentemente concebida, era da mais extraordinária transcendência, alem de representar no seu conceito, um fino exemplo de da filosofia popular. Assim a compreendeu o ancião num rápido raciocínio, respondendo:
- Muito obrigado pela resposta que, creia, me despertou tal interesse que estou resolvido a também acompanhar o enterro.
Enquanto a mulher, agora estupefacta, ficou a meditar no interesse que poderia ter aquele desconhecido em acompanhar á sepultura uma pessoa para ele estranha, este, voltando-se para as pessoas com quem viera, aconselhou-as a que fossem sós tratar do assunto que ali as trouxera, visto que ele, por resolução inesperada, também ia acompanhar o fúnebre préstito.
Ocupando agora o último lugar no cortejo, alheio ás orações que se iam rezando, todo o seu pensamento se centrava na síntese daquela resposta, que ele fazia por desenvolver. Que paradoxal que é esta vida! Pensou. Ali ia a enterrar um homem cuja profissão tinha sido extinta pelo progresso, pelo mesmo progresso criador de novas profissões!
Ele que viveu da construção de alfaias agrícolas, em especial as que se dedicavam á debulha do trigo e malha das favas nas eiras, como o fossem: o trilho, o ancinho, a pá, o rodo, o mangual e a forquilha, vê-se aniquilado pelo poder da debulhadora, do tractor e do camião, este último substituindo o gado de transporte que se alimentava da fava, grandemente cultivada. Ao arado, sucedeu-se a charrua, a junta de bois, o tractor e a debulhadora.
Abstraído na sua meditação, não só não sentiu o efeito, para a sua idade, da distância já percorrida e o piso irregular do caminho, juncado com a palha de trigo das debulhas, como não notou que quase todo o cortejo se encontrava já dentro dos muros brancos do cemitério.
O agudo apito da locomóvel de uma debulhadora, vindo de Os Dez Do Engenho, cerrado mesmo em frente ao cemitério, convidando os agricultores a ultimarem as suas ceifas para a debulha do dia seguinte, veio faze-lo recordar …”

Excerto de um texto de António Lima Raposo

Comentários

Cavalete disse…
Excerto da acta da reuniao da CMRG do dia 31 de Outubro. A tal "famosa" reuniao realizada no Porto Formoso.

Mais informacoes em http://www.cm-ribeiragrande.pt/FileControl/ActasEditais/31102006ACTA22.pdf

"INTERVENÇÃO DOS MEMBROS DO EXECUTIVO
O Senhor Presidente posteriormente deu a palavra aos senhores Vereadores que quisessem intervir antes do período da Ordem do Dia, tendo o senhor Vereador António Pedro Costa usado da mesma,saudando previamente a Junta de Freguesia e o gosto por estar presente
nesta reunião pública agendada para a freguesia do Porto Formoso, passando de seguida a questionar o senhor Presidente, acerca dos seguintes assuntos: --------------------------------------

POLIVALENTE DO PORTO FORMOSO
- Qual era o ponto da situação das obras do Polivalente da Freguesia do Porto Formoso, uma vez que tomou conhecimento pela comunicação Social que as obras foram suspensas, devido à falta de apoios financeiros.- ---------------------------------------
O Senhor Presidente à questão colocada, disse que nunca foi contactado oficialmente por
parte do dono da obra sobre esta matéria, como nunca foi formalmente convidado para ir ao local, como referiu que não conhece o projecto. No entanto, e pelo conhecimento que tem
sobre o assunto através de contactos informais com o Vice Presidente da Comissão Fabriqueira, disse que a Câmara irá promover junto da administração Regional os necessários
contactos, para que se possa encontrar soluções para a conclusão das obras, quer do Polivalente do Porto Formoso quer do Polivalente da Freguesia de S. Brás, porque a Câmara está numa situação que não pode manter o esforço financeiro que já fez no apoio às referidas
obras.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------
ANTENA DE TELEMÓVEIS
- Se já foi instalada a antena para a cobertura da rede de telemóveis na freguesia do
Porto Formoso.- -------------------------------------------------------------------------------------
O Senhor Presidente informou que a realização das infra-estruturas já se encontram licenciadas e instaladas."
carruncho disse…
È pena que neste blog não se fala do assunto proposto mas sim de outros.
o piquenique no monte escuro é muito antigo e o dono da maquina fotografica tambem deve ser um homem bem abastado para ter tantas fotos deste tempo.Porque já são algumas fotos desta familia.Eu por exemplo devo aqui registar que meus pais casaram no Porto Formoso e só 8 dias depois é que o Sr. Remisio foi lá a casa tirar a foto oficial do casamento, lógico já sem convidados. E tenho outra tia que tem uma foto do seu casamento assim, ao descer os calços havia uma casa com umas escadas para a rua, a casa do sr.josé tiago, e foi dai que tiraram a foto até parecia um rancho de " vacas " que ela me perdoe ( minha tia ) ia ela a frente de branco e depois só homens atrás porque as mulheres era em casa que ficavam segundo os testemunhos que tive ao ver esta foto. A vida que os nossos antepassados tinham eram bem tristes neste aspecto agora é fotos a tudo e todos.

Um abraço para todos.
JASRAPOSO disse…
O tema lançado esta semana é uma homenagem aos nossos emigrantes e, simultaneamente, o reconhecimento da importância que este blog tem no estrangeiro. Basta recordar que esta fotografia foi enviada do Canada e o texto de António Lima Raposo veio dos E.U.A.

Tudo isto demonstra ainda o potencial que reina junto das nossas colónias de emigrantes, principalmente no aspecto histórico e cultural.

Se observarmos estes aspectos mais de perto quase que somos levados a afirmar que a cultura tradicional açoriana tem, neste momento, as suas maiores raizes nos E.U.A e no Canada.

Nós, por cá, vamos arrumando a nossa tradição através de importação de modos de vida que muito pouco se coadunam com a formação que tivemos.

São os sinais dos tempos...
Manuela disse…
Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança ainda me enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais,
E se torna, não tornam as idades.

Razão é já, ó anos, que vos vades,
Porque estes tão ligeiros que passais,
Nem todos para um gosto são iguais,
Nem sempre são conformes as vontades.

Aquilo a que já quis é tão mudado,
Que quase é outra cousa; porque os dias
Tém o primeiro gosto já danado.

Esperanças de novas alegrias
Não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,
Que do contentamento são espias.

Luís de Camões
O Regedor disse…
O blogger águia sempre muito bem informado.

Mais do que as pessoas que lá estiveram presentes importa realçar o que lá se passou.

A Escola de Formação Turística Hoteleira do Hotel São Pedro em parceria com a Confraria do Chá Porto Formoso promoveu um jantar temático "Colheita do Chá à Mesa".

Durante alguns meses o Chefe de Cozinha Carlos Pereira e os seus alunos fizeram várias experiências culinárias tendo por base o chá e apresentaram-nas na passada Sexta-feira dia 24 de Novembro.

Do manjar fez parte entradas, peixe, carne, sobremesas e bebidas servidas no prato e todas com o chá a servir de ingrediente.

Tudo estava muito bom, mas destaco a abrotea com molho de chá e o quarteto de sobremesas... de comer e chorar por mais.

A exposição de fotografias de José António Rodrigues sobre o chá (que foi inaugurada por Durão Barroso na sede da Comissão Europeia em Bruxelas) esteve lá e abriu o apetite para o jantar.

Cumprimentos
Cavalete disse…
Certamente que a maior parte das pessoas com credito a habitacao ja viu a sua prestacao mensal ser aumentada devido a subida do indexante Euribor. Isto obriga a alguma contencao no orcamento familiar. Se tomarmos como exemplo um emprestimo de 60.000€, contraido em 2003, por 30 anos, com um spread de 1%, podemos estar a falar de um aumento superior a 60€ na prestacao mensal entre 2004 e o final deste ano (prestacao sobe de 260€ para mais de 320€). Esta e a situacao tipica de muitos casais que fizeram casas na ponte.

Mas nem tudo sao mas noticias. Esta e uma excelente oportunidade para alguns aforradores do Porto Formoso renegociarem as taxas dos depositos a prazo. Refiro-me, em particular, a alguns reformados do Porto Formoso que pouparam algum dinheiro ao longo da vida. Claro que investidores mais sofisticados poderao optar por outros produtos financeiros.

Quanto a questao do arredondamento a milesima dos indexantes subjacentes ao credito a habitacao, nao convem criar falsas expectativas de que os clientes vao poupar mais uns trocos. A perda que o banco sofre com o arredondamento a milesima sera compensada por uma subida do spread dos proximos contratos. Perde 0.2 pontos percentuais no arredondamento e sobe 0.2 pontos no spread. O cliente fica na mesma.
Cavalete disse…
Ainda e muito cedo para falar em listas candidatas as proximas eleicoes da junta mas ja ouvi alguns comentarios de que o Enf. David Mendonca dava um excelente presidente de junta, a julgar pelo dinamismo que imprime ao grupo folclore.
JAGPacheco disse…
Memórias!

Na fotografia do Post estão algumas figuras que povoam o imaginário da infância e de muita das gentes do Porto Formoso. Desta vez gostava de prestar uma singela homenagem ao Mestre Manuel Casinha.

Conheci este grande “Mestre” no Outono da vida, entretido a fazer caixões.
Mas de facto, foi um homem habilidoso, capaz de construir literalmente uma casa. Levantar as paredes, a “armação”, as carpintarias e fazer a mobília. Também se notabilizou na construção naval em estaleiros de Ponta Delgada. No Porto Formoso, construiu a emblemática lancha do José de Lima, outra figura presente na fotografia, e foi durante muitos anos o carpinteiro da Casa do Sr. Amâncio.

Mestre Casinha, ainda hoje é recordado, pelo seu sentido de humor: sentado à porta de casa a comer sopa, num bacio de loiça por estrear; adormecido dentro de um dos seus caixões, também por estrear; ou a esculpir delicadamente um “falo” em madeira, para surpreender aqueles que lhe iam à “cesta da comida”!

Sem frigoríficos ou pacotes UHT, as casas de lavoura, como a de Mestre Manuel, tinham um pequeno estábulo ou “arribana”, onde se mantinha uma vaca que fornecia o leite da manhã.

Ainda noite escura, dois rapazes, sobrinhos de Mestre Manuel (hoje com mais de noventa, a viver nos Estados Unidos) entram ás apalpadelas na “arribana” (localizada na zona onde hoje se está a construir um café) aproximam-se da vaca e mugem apressadamente, levando o leite consigo!

Madrugada, o tio entra no estábulo para tirar o leite para o pequeno-almoço da família e fica surpreendido com a vaca já ordenhada. Quem teria o atrevimento!?

Pela terceira noite consecutiva, os sobrinhos repetem a brincadeira, desta vez um fica de vigia. O outro entra na arribana às escuras, aproxima-se do animal, sempre às apalpadelas e sente na mão uma coisa morna e comprida!

O Mestre Manuel Casinha tinha substituído a vaca por um burro!

Saudações Formosas
JASRAPOSO disse…
Esta iniciativa do corpo docente da escola do Porto Formoso é uma lufada de ar fresco naquele estabelecimento de ensino e na freguesia.

Só é pena que estas exposições não estejam abertas aos fins de semana de modo a poderem acolher um maior número de visitas.
JAGPacheco disse…
Vai um cafezinho!?
No fundo, para além de saber que esta “prática” é proibida por lei, o que o Bloger pretende é que a Junta de Freguesia lhe disponibiliza gratuitamente uma “estação de serviço” com lavagem automática, para ter tempo de apreciar a paisagem!
Cavalete disse…
Sera que poderei utilizar o multibanco do Porto Formoso no Natal?
O Regedor disse…
Meus senhores,

cheguei de Lisboa à menos de 1 hora e o que vejo?

Muitos comentários enriquecedores no blog e outros a falarem de enredos de mortos com comentadores a usarem nomes de pessoas reais. Haja paciência.

Como medida higiénica vou limpar todos os comentários relacionados com este tema.
Espero não ferir susceptibilidades.
Devo dizer que no último ano talvez só tenha apagado um ou dois comentários, mas agora impõe-se que apague todos os relacionados com o tema acima referido, mesmo os que não são ofensivos.

Cumprimentos a todos
JASRAPOSO disse…
O amor pela nossa história não é uma questão de moda, mas uma atitude cultural.

Quando os professores procuram desenvolver algumas faculdades espirituais e intelectuais nos seus alunos, os adultos e os pais podem estar certos que se está a aperfeiçoar as condições de vida futura, acabando com a pobreza e abolindo o ódio entre os Homens.

Com a exposição na escola do Porto Formoso os professores fizeram a sua parte, cabendo agora aos pais e à comunidade demonstrarem o seu apreço por esta iniciativa, - FEITA SEM SUBSÍDIOS E SEM PAGAMENTO DE HORAS EXTRAORDIÁRIAS -
indo visitá-la.
Cavalete disse…
A revista Açores de hoje mostra algumas fotografias do jantar da Confraria de Chã do Porto Formoso. Esta revista está disponível no Café do Amaral e no Café Mestre João.
deus2 disse…
Eu também ja pude ir ver a sede da Junta de Freguesia por dentro e está tudo muito asseado e moderno.
As mobílias são novas com computadores novos com internet e impressoras com tudo muito limpo e arrumado.
Há uns anos atrás o objecto mais moderno da junta era uma máquina de escrever!!!

Muito falta fazer no Porto Formoso mas alguma coisas importantes foram feitas.
Ter uma casa arrumada e asseada é motivo de orgulho.

O blogger águia insiste em falar na Casa do Povo com esperança que a direcção daquela casa leia as suas linhas e tenha coragem de dar a cara.
Eu por mim ja perdi toda a esperança na actual direcção da Casa do Povo do Porto Formoso ao ponto de só esperar que as coisas piorem cada vez mais e qualquer dia a casa vem abaixo!

Reconheço à pessoa do presidente da Casa do Povo capacidade de por as coisas a andar e pessoalmente parece boa pessoa, mas como presidente da Casa do Povo do Porto Formoso é um desastre. Não parece a mesma pessoa.
Parece que não se importa com nada daquilo. Esta-se a c*gar para aquilo.
Devia dar o lugar a outros.

Adeus

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